Para nós espíritas, a REENCARNAÇÃO é uma
"lei natural" e não apenas um "aspecto religioso".
Realmente, pois, não se trata, de forma alguma, somente de uma vertente da
Doutrina Espírita, uma vez que ela conta também com o respaldo de vários
segmentos da Ciência. É claro que Jesus Cristo, na sua profunda sabedoria,
tinha ciência do que estamos falando. Entretanto, sabia também que o povo
daquela época não tinha a capacidade de compreender "as vidas múltiplas",
tanto que disse:
"Ainda tenho muito que vos dizer; mas
vós não o podeis suportar agora" (João 16,12).
Assim fazendo, o meigo Mestre as citou
veladamente, e é dessa maneira que as lemos hoje no Evangelho.
E vejamos abaixo o pensamento de Martins
Peralva sobre a reencarnação:
***
Necessário vos é nascer de novo
“Não foram os espíritas que inventaram a
Reencarnação -palavra que grafamos com inicial maiúscula, em homenagem de nossa
Alma agradecida à lei sábia e misericordiosa que projetou luz sobre o até então
incompreendido problema do Ser, do Destino e da Dor.
O ensino reencarnacionista vem de muito
longe, de povos antigos e remotíssimas doutrinas.
Ao Espiritismo couberam, apenas, a honra e
a glória de estudá-lo, sistematizando-o, para convertê-lo, afinal, num dos
principais, senão no principal fundamento de sua granítica estrutura
doutrinária.
Grandes vultos do passado, no campo da
Religião, da Filosofia e da Ciência, aceitaram e difundiram a Reencarnação.
Orígenes (nascido em 185 e falecido em
254), considerado por São Jerônimo como a maior autoridade da Igreja de Roma,
afirma, no livro “Dos Princípios”, em abono da tese básica do Espiritismo: “As
causas das variedades de condições humanas são devidas às existências
anteriores.
São, ainda, do eminente e consagrado
teólogo as seguintes palavras: “A maneira por que cada um de nós põe os pés na
Terra, quando aqui aportamos, é a consequência fatal de como agiu anteriormente
no Universo.”
Ainda de Orígenes: “Elevando-se pouco a pouco,
os Espíritos chegaram a este mundo e à ciência dele. Daí subirão a melhor mundo
e chegarão a um estado tal que nada mais terão de ajuntar.”
Crisna, no Bhagavad-Guitá (o Evangelho da
Índia), predica, com absoluta e inegável clareza: “Eu e vós tivemos vários
nascimentos. Os meus, só são conhecidos de mim; vós não conheceis os vossos.”
Os Vedas, milhares de anos antes de
Jesus-Cristo, difundiam, largamente, a ideia reencarnacionista. Buda aceitava e
pregava a Reencarnação. Os sacerdotes egípcios ensinavam que “as almas
inferiores e más ficam presas à Terra por múltiplos renascimentos, e que as
almas virtuosas sobem, voando para as esferas superiores, onde recobram a vista
das coisas divinas”.
Na Grécia, berço admirável de legítimos
condores do Pensamento e da Cultura, encontramos Sócrates, Platão e Pitágoras
como fervorosos paladinos das vidas sucessivas.
Sócrates ensinava que “as almas, depois de
haverem estado no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em
múltiplos e longos períodos”.
O ensino pitagórico era, como é notório,
essencialmente reencarnacionista, dele advindo, por falsa interpretação de
mentes pouco evoluídas, a errônea teoria da metempsicose.
Entre os romanos, Virgílio e Ovídio
disseminavam os princípios reencarnacionistas.
Ovídio chegava a dizer: “quando minha alma
for pura, irá habitar os astros que povoam o firmamento”, admitindo, assim,
semelhantemente aos espíritas, a sucessividade das vidas em outros planetas.
São Jerônimo afirmava, por sua vez, “que a
transmigração das almas fazia parte dos ensinos revelados a um certo número de
iniciados”.
Deixemos, contudo, esses consagrados
vultos, cuja opinião, embora respeitável e acatada, empalidece ante a opinião
da figura máxima da Humanidade — Nosso Senhor Jesus-Cristo.
O Sublime Embaixador pregou a Reencarnação.
Algumas vezes, de forma velada; outras, com objetividade e clareza.
Falando a respeito de Elias, o profeta
falecido alguns séculos antes, diz o Mestre: — “Elias já veio e não o
conhecestes”, compreendendo então os discípulos que se referia a João Batista
(Elias reencarnado).
No famoso diálogo com Nicodemos, afirma que
ninguém alcançará o Reino de Deus “se não nascer de novo.
Nascer da água e do Espírito — o que
completa a intenção, o pensamento reencarnacionista de Jesus.
Em outra oportunidade, externando por meio
de simples alegoria sobre a Lei de Causa e Efeito — ou Carma —, sentencia: —
“Ninguém sairá da Terra sem que pague até o último ceitil”, isto é: até a
completa remissão das faltas.
Como Se vê, o Espiritismo não criou, não
inventou a Reencarnação.
Aceitando-a como herança de eminentes
filósofos e de respeitáveis doutrinas, de Jesus e de Seus discípulos, e
confirmada, a seu tempo, pelos Espíritos do Senhor, o Espiritismo promoveu o
seu estudo, a sua difusão, a sua exegese.
Ela é, contudo, antiquíssima, conhecida e
professada antes do Cristo, na época do Cristo e em nossos dias.
Há mais de um século o Espiritismo
apresenta-a por único meio de crermos num Pai Justo e Bom, que dá a cada um
“segundo as suas obras” e como elemento explicativo da promessa de Jesus, de
que “nenhuma de suas ovelhas se perderia”.
A Reencarnação é a chave, a fórmula
filosófica que explica, sem fugir ao bom-senso nem à lógica, as conhecidas
desigualdades humanas — sociais, econômicas, raciais, físicas, morais e
intelectuais.
Sem o esclarecimento palingenésico, tais
diversidades deixariam um doloroso “ponto de interrogação” em nossa
consciência, no que diz respeito à Justiça Divina.
Sem as suas claridades, seria a Justiça de
Deus bem inferior à dos homens.
Teríamos um Deus parcial, injusto,
caprichoso, cruel, impiedoso mesmo.
Um Deus que beneficiaria a uns e
infelicitaria à maioria.
Com a Reencarnação, temos Justiça
Incorruptível, equânime, refletindo a ilimitada Bondade do Criador.
Um Deus que perdoa sem tirar ao culpado a
glória da remissão de seus próprios erros.
Um Deus que perdoa, concedendo ao culpado
tantas oportunidades quantas ele necessite para reparar os males que praticou.
Com a Palingenesia, temos um Deus que se apresenta,
no Altar de nossa consciência e no Templo do nosso coração, como Pai
Misericordioso e Justo, um Pai carinhoso e Magnânimo, que oferece a todos os
Seus filhos os mesmos ensejos de redenção, através das vidas sucessivas — neste
e noutros mundos, mundos que são as “outras moradas” a que se refere Jesus no
Evangelho.
Tantas vidas quantas forem necessárias,
porque o essencial e o justo é que “nenhuma das ovelhas se perca”... (PERALVA,
1987, pp. 53-57).